sexta-feira, 3 de julho de 2009

"Nação sofre de doença crónica, grave e contagiosa"

"Estivesse Portugal com gripe, mesmo que esse episódio fosse acompanhado de febre alta, não menos do que 40 graus, e estaria tudo bem - ou pelo menos, menos mal. Mas o país, diagnosticou ao JN Eduardo Sá, psicólogo clínico e psicanalista, "padece de doença crónica, que deveria ser tratada com rigor e cautela". Mas como ninguém parece interessado em encontrar e administrar o tratamento correcto, "o prognóstico é profundamente reservado". E, o que será pior, a doença é contagiosa. "De decepção em decepção, os portugueses mergulharam numa depressão grave que as conduziu a um tal estado de indiferença, que tudo tanto lhes faz."

A prova, justifica, "é a elevada taxa de abstenção verificada nas últimas eleições europeias. Uma das características da depressão é as pessoas não quererem saber, não se importarem, como se este país não fosse delas e as decisões dos políticos não tivessem real influência no curso das suas vidas".

De quem é a culpa? "De haver mais populismo do que política, de os políticos gastarem demasiado tempo a discutir o Nada, de cederem à tentação do imediato em vez de apostarem em medidas profundas e restruturantes". Apesar disso, ressalva o professor de psicologia clínica na Universidade de Coimbra, "nesta legislatura fizeram-se algumas reformas importantes, mas não se foi tão longe quanto seria necessário, nem com suficiente esclarecimento."

Só um país "mergulhado numa depressão profunda tem orgulho em usar a saudade como sua principal imagem de marca. É o país do povo que permanentemente canta: "Ó tempo volta para trás", cujo crescimento é sempre nostálgico, o que significa que é incapaz de perceber que o melhor do mundo é sempre o futuro".

O período eleitoral ressuscita a esperança? "Não, nada. Primeiro era preciso reabilitar a política, devolver-lhe o carácter nobre"." JN

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