quinta-feira, 9 de setembro de 2010

"A vaidade dos ricos é o sustento dos pobres" (continuam a dizer eles!)

A notícia que se segue, de 1920, editada esta semana pelo JN, num dos seus suplementos - "As estórias nunca contadas pela história" - referente às comemorações dos 100 anos da República, é exemplificativa de que nada ou pouco mudou em cem anos. A mentalidade, dos nossos industriais e dalguns políticos a seu mando, continua assemelhar-se, cada vezes mais, à da época retratada!

"The rich banquet while the workers fight", José Clemente Orozco

"Pareceu-nos interessante ouvir a opinião do activo e inteligente industrial, Sr. Francisco Grandela, cuja competência, audácia e forte espírito de iniciativa tornaram conhecidíssimo o seu nome por todo o país. Fomos encontrá-lo no seu elegante escritório, donde o incansável trabalhador dirige ainda hoje, pessoalmente, todo o serviço dos seus grandes armazéns.
Se o luxo é um mal, disse-nos o Sr. Grandela, com a sua conhecida bonomia, é dos males que vêm por bem. Quando por essas ruas passa uma luxuosa equipagem, um deslumbrante automóvel ou uma senhora carregada de peles, de sedas ou de plumas, aqueles que no fundo da sua miséria e desventura, se irritam com a ostentação tão provocante, não pensam por decerto quanto dinheiro foi espalhado por gente humilde e necessitada para satisfazer o conforto ou a vaidade dos ricos (...)
Se o luxo fosse totalmente proibido acrescentou, não eram os ricos que sofriam, mas sim os pobres que dele vivem. (...)"
DN, 16.03.1920

2 Caixa do leitor:

Teresa Fidalgo disse...

... passaram cem anos sobre esta entrevista?...

Quem diria... Que actual!


... Tantos que (ainda) assim pensam...


... e como é bom ser dos ricos que fazem com que os pobres não sofram... que corações generosos!

dedo politico disse...

Teresa,

Para corroborar, hoje, toda esta teoria do Sr. Grandela, só faltava mesmo,num país que vive cada vez mais de aparências, criar um sistema de Castas,como na India, para que poder melhor catalogar a nossa sociedade!


Dá que pensar...

"aqueles que no fundo da sua miséria e desventura, se irritam com a ostentação tão provocante, não pensam por decerto quanto dinheiro foi espalhado por gente humilde e necessitada para satisfazer o conforto ou a vaidade dos ricos"...