sexta-feira, 29 de abril de 2011

"Complexo político-legal-mediatico"

“Durante cinquenta anos [durante o período de Guerra Fria] os países ocidentais mantiveram os seus cidadãos num estado de medo perpétuo. Medo do outro lado. Medo da guerra nuclear. A ameaça comunista. A cortina de ferro. O império do Mal. E nos países comunistas, a mesma coisa ao contrário. Medo de nós. Então, de repente, no Outubro de 1989, tudo acabou. Ido, desaparecido. Acabado. A queda do muro de Berlim criou um vácuo de medo. A natureza detesta o vácuo. Algo tinha de o preencher.”

“É claro que agora temos o fundamentalismo radical e o terrorismo pós -11 de Setembro para nos meter medo, e são certamente bons motivos de pânico. Mas não é onde quero chegar. Onde quero chegar é: tem de haver sempre uma causa para ter medo. A causa pode mudar com o tempo, mas o medo está sempre connosco. Antes do terrorismo tínhamos medo do ambiente tóxico. Antes disso tínhamos a ameaça comunista. A questão é que, embora a causa específica do medo possa mudar, nunca deixamos de ter medo propriamente dito. O medo penetra em todos os aspectos da sociedade: Perpetuamente.”

- Nunca lhe ocorreu como é impressionante a cultura da sociedade ocidental?

“Os países industrializados dão aos seus cidadãos uma segurança, saúde e conforto sem precedentes. A esperança média de vida aumentou cinquenta por cento no século passado. Contudo as pessoas modernas vivem num medo abjecto. Receiam os desconhecidos, a doença, a criminalidade, o ambiente. Têm medo das casas onde vivem, da comida que comem, da tecnologia que as rodeia. Têm pânico muito especial em relação às coisas que nem sequer podem ver – germes, químicos, aditivos, poluentes. São tímidas, nervosas, instáveis e deprimidas. E, o que é ainda mais surpreendente, estão convencidas de que o ambiente do planeta inteiro está a ser destruído à volta delas. Notável! Tal como a crença em bruxaria, é uma ilusão extraordinária – uma fantasia global própria da Idade Média.”

“Nos últimos quinze anos temos estado sob controlo de um complexo inteiramente novo (… ) É o chamado complexo político-legal-mediático. O PLM. E dedica-se a promover o pânico entre a população – sob disfarce de promover a segurança.

Os países ocidentais são perfeitamente seguros. Contudo as pessoas não sentem que eles sejam, por causa do PLM. E o PLM [político-legal-mediático] é poderoso e estável, precisamente porque une tantas instituições da sociedade. Os políticos precisam dos medos para controlar a população. Os advogados precisam dos medos para ter litígios e ganhar dinheiro. Os média precisam de notícias assustadoras para captar audiência. Juntos, estes três estados são tão convenientes que podem continuar agir mesmo que o pânico seja completamente infundado. Não se baseia em nenhum facto.” 
Michael Crichton, in State of fear

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