quinta-feira, 24 de junho de 2010

Dedo negocial, destrona o político

O dever do político, aquando do exercício do poder, é decidir. É fazer escolhas, ainda que difíceis, e responder por elas. É neste quadro de decisão que eu coloco a opção que o executivo municipal tomou de constituir a badalada “ parceria público-privada” (PPP):
Será uma boa opção, ainda por cima na actual conjectura, gastar mais de trinta milhões de euros para destruir a actual zona desportiva e construir um novo estádio de futebol? Será razoável que esta PPP custe ao município, ao longo de 25 anos e sem contar com as despesas de funcionamento, mais de 150 milhões de Euros, pagos ao ritmo de 500 mil Euros ( mais de 100 mil contos) por mês?
Penso que qualquer famalicense saberá as respostas a estas questões. Contudo, eis uma mais difícil: Haverá algum dedo político que adivinhe este negócio?

6 Caixa do leitor:

dedo politico disse...

Luís,

Esta PPP custará ao municipio, "ao longo de 25 anos e sem contar com as despesas de funcionamento, mais de 150 milhões de Euros, pagos ao ritmo de 500 mil Euros ( mais de 100 mil contos) por mês?"


Visto assim, parece que a crise só atingiu o sector público, porque para o sector privado (alguns ou os mesmos sempre), isto parece nunca ter corrido melhor!

Com o devido distanciamento, e comparativamente com o TGV, este, tal como o outro, são projectos que eu gostaria de ver realizados; no entanto neste momento são negócios completamente ruinosos, com um peso desmesurado para os contribuintes!
Tudo que não traz, neste momento, produtividade ao mercado ou cria emprego aos cidadãos, não deve ser executável.

Isto deveria ser, obrigatoriamente, decretado por lei!

Luis Andrade Moniz disse...

Meu caro,

Os valores são mesmo esses... assustam, não? Mais, comprometem o nosso futuro.
Depois, não concordo com a comparação entre este investimento e o TGV. É que para além de ser muito discutivel a necessidade de um novo estadio em Famalicão (uma vez que poderia ser conseguido à custa da recuperação do actual estádio), não se compreende, à luz de ditames estritamente políticos, que se constitua para tal uma PPP que trará para o municipio os encargos acima referidos.
Ao contrario do TGV, com contornos e necessidades muitos mais claros, este é, de facto, um negócio verdadeiramente ruinoso.

Cumps.

Jorge Sousa disse...

Durante a campanha eleitoral, do ano passado, o governo de esquerda defendia que para sair da crise o país presisava de mais investimento público e os partidos de direita afirmavam o contrário.
Hoje o mesmo Governo, de esquerda, aplica as propostas dos partidos do centro e de direita e adia os investimentos.
Em Famalicão a Câmara de direita quer avançar com investimentos públicos e são os partidos de esquerda que não concordam. Será falta de coêrencia?

Teresa Fidalgo disse...

Jorge Sousa,

Não é, de certeza, falta de coerência: É sensatez. Nenhum partido de esquerda defendeu o investimento público, pelo investimento público.
Como tudo na vida, a ponderação é um factor fundamental para a boa governação – quer se trate da governação de um país, de uma cidade ou de uma freguesia.
A Câmara de Famalicão não quer avançar com “o investimento público”. A Câmara de Famalicão quer avançar com os compadrios privados, com o desgoverno, com o esbanjamento.
Há-de haver bom investimento público, quando se atenta à necessidade da obra, medida pela capacidade de dispêndio do investidor.
A obra a fazer tem que ser essencial, trazer vantagens para a população, riqueza.
E agora diga-me: O que vão beneficiar os famalicenses com “o grande investimento público” que a Câmara quer levar avante? Quais os benefícios para os famalicenses? E por outro lado, não menos importante, qual vai ser a factura que vão deixar para os seus sucessores, e para nós famalicenses?
Haverá mesmo necessidade desse “investimento público”? Haverá mesmo capacidade para isso? Sairemos mesmo beneficiados?
Não me parece!

Jorge Sousa disse...

Olá Teresa,
Qualquer investimento tem de ser bem planeado e tem de ter retorno, que pode ser financeiro ou social.
Na situação actual do país não faz sentido investimentos que não tenham retorno a curto prazo sem hipotecar o futuro. O que surpreende é que se critique só a construção do Estádio e não o todo.
Quando não se têm dinheiro para acabar os centros escolares, qual a razão para investir em mais piscinas e pavilhões?
Por que razão se investe 65 milhões de euros em equipamentos desportivos e não se reduz o IRS ou o IMI da população famalicense?
Quando aponto a falta de coerência é porque as razões que são apontadas por alguns partidos para alguns casos, como o investimento no TGV, depois não são válidas para as propostas da oposição e vice-versa.
Por isso, como exemplo, não entendo a posição do BE e do PCP a defender a construção do TGV, como o fez no início deste mês, quando no ano passado Francisco louça afirmou que “Sobre o comboio de alta velocidade entre Lisboa e Madrid e entre Lisboa e Vigo, Louçã recordou que "o BE sempre criticou" esse projecto” assim como o PCP só tinha como preocupação se a construção, gestão e exploração seriam do estado.
O que espero enquanto cidadão é que o debate de ideias seja feito com propostas, de forma coerente, contribuindo para uma sociedade melhor.

Teresa Fidalgo disse...

Jorge Sousa,

Desculpe só responder agora, mas não tenho tido grande tempo.

Apenas duas notas:

Pessoalmente, tenho sérias dúvidas quanto ao TGV... É uma assunto que não domino (não conheço em pormenor os estudos que foram efectuados - quase só tenho conhecimento pelo "ouvir dizer") e não posso afirmar com segurança se os benefícios compensarão o investimento.


Mas a posição do BE é muito clara quanto a esta questão do investimento público que o Governo se prepara para fazer:

O BE entende (e bem) que o país "precisa de um reforço de investimento que crie emprego, controlado, qualificado, ponderado, mas que seja decisivo na animação económica" e necessita da ferrovia, "por razões ambientais, económicas e por uma estratégia de desenvolvimento do sistema de transportes.

No entanto, coloca três condições à construção do TGV: exige "um bom investimento na ferrovia", rejeitando "concessões de ramais da CP a privados, o que prejudicaria os consumidores e a economia nacional"; o projecto deve ter uma incorporação pela indústria nacional na ordem de 75 por cento, pelo menos, e, finalmente, reclama poupanças na obra, propondo nomeadamente que a linha sirva simultaneamente para transporte de passageiros e para mercadorias, poupando assim 250 milhões de euros.

Quanto ao aeroporto, defende o adiamento para 2022 da conclusão que estaria prevista para 2017, considerando que esta obra não é prioritária, uma vez que a crise económica reduz a procura de voos internacionais e altera também o prazo em relação ao qual a Portela poderia ficar com dificuldades na gestão do tráfego.