segunda-feira, 1 de novembro de 2010

"Há qualquer coisa profundamente errada na forma como vivemos hoje."

"Não restam dúvidas de que precisamos de governos intervencionistas. Só que ninguém está a repensar o Estado. Verifica-se uma clara repugnância em defender o sector público em nome do interesse colectivo ou de princípios. São testemunho disso uma série de eleições europeias, que se seguiram à crise financeira, e nas quais os partidos sociais-democratas sofreram sérios reveses. Apesar do desmoronamento do mercado, mostraram-se incapazes de estar à altura das circunstâncias.

Se quiser voltar a ser levada a sério, a esquerda tem de re-encontrar a sua voz. Não lhe faltam motivos para se encolerizar: desigualdades crescentes em matéria de riqueza e de oportunidades; injustiças de classe e de casta; exploração económica no país e no estrangeiro; corrupção, dinheiro e privilégios a entupirem as artérias da democracia. Mas já não basta identificar os defeitos do "sistema" e lavar as mãos a seguir, à maneira de Pôncio Pilatos, sem nos preocuparmos com as consequências: cabe-nos redefinir o papel do governo. Se não o fizermos, outros se encarregarão disso."

"Vamos ter de aprender a repensar o Estado. Como redefinir e descrever a seu papel? Para começar, teremos de admitir - mais do que a esquerda tem estado a disposta a fazer - os verdadeiros malefícios que causaram, e ainda podem causar, os soberanos todo-poderosos."

"As sociedades onde reina uma iniquidade monstruosa são igualmente sociedades instáveis. Padecem de divisões internas e, mais cedo ou mais tarde, geram conflitos internos, cujos os resultados raramente são democráticos. Enquanto cidadãos de uma sociedade livre, temos o dever de lançar um olhar critico sobre o nosso mundo. Mas, isso não basta. Se julgamos saber o que está mal, temos obrigação de agir com base nesse conhecimento. Há um pensamento célebre [de Karl Marx] que diz que os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de maneiras diversas. Ora, aquilo que importa é transforma-lo."

Estes Excertos - baseados na obra do historiador britânico Tony Judt "sobre o futuro das nossas sociedades e o aumento das desigualdades" publicados num artigo, de leitura obrigatória(!), pelo The Guardian- foram retirados, pelo 'dedopolitico', da Courrier International de Novembro 2010.

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